Thursday, October 07, 2010

 
Na realidade a qualidade desta prestação do artista não me parece discutível. Mas vou ouvir outras prestações a ver se aquilo foi apenas um mau momento.

 

Câmara Corporativa: ♪ Novíssimos portugueses [2]

Câmara Corporativa: ♪ Novíssimos portugueses [2]: "B FachadaKit de Prestidigitação"

Saturday, July 26, 2008

 

O bater de asas de uma borboleta no Panamá

O vento, uma brisa ligeira, puxa a corda enrolada à volta do corpo ágil.
Gira sobre si próprio o corpo.
Sussurra em flautas mágicas e fixa nele os canais da atenção.
Dobra-se como se estivesse a tirar água do mar para encher outros mares.
Continua a girar até esmorecer numa vénia pequenina e acolhida.
A luz apaga-se sobre a bailarina.
Mãos pequeninas abraçam-na e põem-na na tampa de uma caixa de música ao pé do soldadinho de chumbo.
O quebra-nozes com pena dela solta-a e ela dança pelo ar fora formando no céu acordes de cores dissonantes.

Monday, July 07, 2008

 
Há dias em que o Sol passa sem se dar ao trabalho.

Friday, June 13, 2008

 

Janela no Outono

Janela de quarto de hotel, debruçada sobre a estação dos comboios.
Janela de carruagem de comboio, debruçada sobre a paisagem.
Lá fora as folhas dos carvalhos sucedem-se, ficam castanhas e caem, outras aproveitam a oportunidade e quando sentem a árvore nua vão cobrindo-a de rebentos verdes e tímidos primeiro, verdes e alvoroçados depois.
Enverdecida a árvore tornam a acastanhar-se e a cair.
Partem para o chão e o vento enrola-as em rodopios de valsa até que a chuva as amaine.
Embalam-se em regos de água, parecem navios pequeninos a correr em rios menores. Partem de alegria a entupir sarjetas. Voltam no ano que vem. Em verde.
Lá fora passam casas, vinhas, sobreiros que não mudam de cor, mais casas e mais sobreiros.
Às vezes um olival ou um pomar de laranjas passam também a correr para trás e sem mudar de cor.
Passa um vento frio, uma aragem nas estações mortas de terras que já não existem ou que existem pouco, tão pouco que já nem o comboio lá para. Gemem de saudade as janelas vazias da sala de espera, suspiram ao passar das carruagens.
Da janela do quarto de hotel vê-se uma mulher no Largo da Estação a abrigar da chuva com o corpo o filho.
O filho não compreende, é pequeno e não tem a memória do Outono.
A chuva enrola-se nele protectora e fá-lo tremer de frio.
A mãe atravessa a rua com ele pela mão, desaparecem engolidos por uma entrada para o metro.
Os pombos da praça fugiram da estátua do Senhor de bigode e espada desembainhada que olha a estação do comboio com ar vingador, estão agora albergados no hotel. Como eu.

Friday, May 30, 2008

 
O tempo lento e frio trespassa-nos a pele camada por camada.

Sunday, April 27, 2008

 

Famílas

Três notícias relevantes no DN de Sexta-feira, 25 de Abril:
1. página 27:
"Imigrante moldavo arrisca-se a prisão por queimar o filho".
No essencial a notícia desmente o título.O miúdo de cerca de oito anos de idade (a noticia é omissa quanto à idade mas revela que frequenta ao terceiro ano) terá afanado uns postais e o pai castigou-o queimando-lhe os dedos com um isqueiro.A professora mandou a criança ao hospital e comunicou ao Conselho Executivo do agrupamento de escolas, que comunicou à CPCJ, que comunicou ao MP.
O DN falou com um Advogado que disse ao jornalista que se trata de um crime de ofensas à integridade física simples, que o crime depende de queixa e como o miúdo não fará queixa contra o pai não haverá processo mas mesmo a haver iria tudo dar numa absolvição com pena suspensa.
Não é assim legalmente, com excepção infelizmente com toda a probabilidade da absolvição com pena suspensa.
(O que quer dizer que o CE da Escola e a CPCJ interiorizaram as disposições legais em vigor, que são aliás normas de bom-senso.
Será mais ou menos claro para qualquer pessoa que se trata:
a)de um crime grave;
b) de um crime de iniciativa processual pública;
c)que tem de ser comunicado ao MP).
Quanto à multiculturalidade desta vez lixou-se porque ouvidos outros moldavos estes dizem que lá na Moldávia quem usa este tipo de violência é a máfia e que o normal seria o miúdo ser castigado pelo pai com a interdição temporária de jogar à bola.

2.página 38:
"Filhos de seita entregues a famílias":
Estes 437 miúdos viviam com as famílias que pertenciam a um seita fundamentalista cristã no Texas.Por um lado o Estado terá intervindo em nome dos bons costumes, pois a razão da intervenção parece ser a de que os membros da seita praticavam a poligamia.E nessas coisas de moral os americanos chateiam-se, são muito pouco dados a "multiculturalismos".
Mas os miúdos, que viviam em clausura, não estavam habituados ao século XXI e agora terão de fazer um tempo de espera entregues a famílias de acolhimento.Seria interessante saber porque é que as famílias de acolhimento (foster families) funcionam nos EUA e não em países de grau de desenvolvimento próximo, ou pouco abaixo, o EUA como é Portugal, onde estes miúdos teriam fortes hipóteses de ser enterrados vivos em instituições.

3. página 36
"jovem recupera identidade à força".
Evelyn foi subtraída aos pais , desaparecidos pela junta militar argentina em 1977, e entregues a um casal de apoiantes do General Videla (só se fala do Pinochet mas a ditadura deste senhor foi mais terrorista) que a criou e com quem sempre manteve laços de afectividade como se de seus pais biológicos se tratasse (aliás só em 1999 soube não eram).
Recusou-se sempre a saber a verdade, que só agora lhe foi imposta.As avós biológicas querem contactá-la e ela terá de decidir quanto a isso.Tem 31 anos de idade, não é um caso de "o Estado decide por ti que és pequenina e não sabes".
Mas é uma situação complicada do ponto de vista do direito de família.

Três casos a fazer pensar.

Monday, April 07, 2008

 

Primavera

As amêndoas foram cobertas de açúcar e postas num ninho escondido com cuidado num canto da casa, debaixo de um contador de mogno.

Com o Equinócio da Primavera partiram-se ao meio e de dentro delas saíram a correr pequenos jingles.

Uns trauteavam operadoras de telefones móveis. Outros juntavam-se em coros que cantavam em desafinação pequenas peças de Natal.

Percorreram a casa sempre a cantar. Um anúncio particularmente bem concebido foi recebido com honras no lava-loiças. Era o jingle do anúncio de um detergente que lava tudo mais branco, até as peças azuis.

Um fio de água saudou-o com salpicos de alegria.
Ao ping-ping do salpico juntava-se agora uma espécie de tralalá muito limpo.

Das amêndoas continuavam a sair jingles. Os últimos racionavam a notas de música que lhes restavam como se se tratasse de água no deserto.

Cedo virá o Natal e todos eles serão usados nas lojas, nos televisores, nos rádios dos carros. Esgotar-se-ão a voar em círculos em volta de homens gordos vestidos de encarnado verdadeiro e de barbas postiças e brancas até caírem para o lado e serem varridos.

Até ao Equinócio futuro, em que novamente as amêndoas se hão de partir e libertar os jingles em notitas paralisadas de contentamento.

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