Wednesday, September 27, 2006

 

A6, De Manhã.

Mal acordaram os meninos da pista foram ver o Mini. Espreitaram mas não viram movimento, esperaram um bocadinho mas o Mini ficou parado. Contrafeitos foram fazer as coisas que se fazem de manhã antes de ir para a escola e depois foram mesmo para a escola sem que uma última espreitadela furtiva tivesse revelado algum movimento na estação de serviço.

Do outro lado eram férias.
O Mini repousou até tarde e os ocupantes dormiram mais um bocadinho.
Depois levantaram-se e foram-se à estrada.
A questão do destino não se punha ao condutor, a pista era curta e era preciso um esforço de memória para esquecer que tinham acabado de passar por aquela árvore, aquele sinal de saída, não há muito.
O pescador resolveu fazer mais uma surpresa aos meninos.
Bem, não foi exactamente assim, pôs-se a olhar para o Mini às voltas na pista e teve pena do carrinho. Sempre às voltas no mesmo sítio. Sem destino.
Foi à loja, comprou mais umas saídas de auto-estrada e um acidente.
O acidente era giro, dois carros embatidos, um deles de patinhas para o ar como as baratas em Junho. Polícias, carros da Polícia, luzes vermelhas e azuis a piscar numa espécie de Natal à beira-estrada em que os carros paravam para ver e formar bicha.
Acrescentou-lhe ainda uma portagem e um grande viaduto.

 

A6, De Manhã.

Mal acordaram os meninos da pista foram ver o Mini. Espreitaram mas não viram movimento, esperaram um bocadinho mas o Mini ficou parado. Contrafeitos foram fazer as coisas que se fazem de manhã antes de ir para a escola e depois foram mesmo para a escola sem que uma última espreitadela furtiva tivesse revelado algum movimento na estação de serviço.

Do outro lado eram férias.
O Mini repousou até tarde e os ocupantes dormiram mais um bocadinho.
Depois levantaram-se e foram-se à estrada.
A questão do destino não se punha ao condutor, a pista era curta e era preciso um esforço de memória para esquecer que tinham acabado de passar por aquela árvore, aquele sinal de saída, não há muito.
O pescador resolveu fazer mais uma surpresa aos meninos.
Bem, não foi exactamente assim, pôs-se a olhar para o Mini às voltas na pista e teve pena do carrinho. Sempre às voltas no mesmo sítio. Sem destino.
Foi à loja, comprou mais umas saídas de auto-estrada e um acidente.
O acidente era giro, dois carros embatidos, um deles de patinhas para o ar como as baratas em Junho. Polícias, carros da Polícia, luzes vermelhas e azuis a piscar numa espécie de Natal à beira-estrada em que os carros paravam para ver e formar bicha.
Acrescentou-lhe ainda uma portagem e um grande viaduto.

 

A6, De Manhã.

Mal acordaram os meninos da pista foram ver o Mini. Espreitaram mas não viram movimento, esperaram um bocadinho mas o Mini ficou parado. Contrafeitos foram fazer as coisas que se fazem de manhã antes de ir para a escola e depois foram mesmo para a escola sem que uma última espreitadela furtiva tivesse revelado algum movimento na estação de serviço.

Do outro lado eram férias.
O Mini repousou até tarde e os ocupantes dormiram mais um bocadinho.
Depois levantaram-se e foram-se à estrada.
A questão do destino não se punha ao condutor, a pista era curta e era preciso um esforço de memória para esquecer que tinham acabado de passar por aquela árvore, aquele sinal de saída, não há muito.
O pescador resolveu fazer mais uma surpresa aos meninos.
Bem, não foi exactamente assim, pôs-se a olhar para o Mini às voltas na pista e teve pena do carrinho. Sempre às voltas no mesmo sítio. Sem destino.
Foi à loja, comprou mais umas saídas de auto-estrada e um acidente.
O acidente era giro, dois carros embatidos, um deles de patinhas para o ar como as baratas em Junho. Polícias, carros da Polícia, luzes vermelhas e azuis a piscar numa espécie de Natal à beira-estrada em que os carros paravam para ver e formar bicha.
Acrescentou-lhe ainda uma portagem e um grande viaduto.

 

A6, De Manhã.

Mal acordaram os meninos da pista foram ver o Mini. Espreitaram mas não viram movimento, esperaram um bocadinho mas o Mini ficou parado. Contrafeitos foram fazer as coisas que se fazem de manhã antes de ir para a escola e depois foram mesmo para a escola sem que uma última espreitadela furtiva tivesse revelado algum movimento na estação de serviço.

Do outro lado eram férias.
O Mini repousou até tarde e os ocupantes dormiram mais um bocadinho.
Depois levantaram-se e foram-se à estrada.
A questão do destino não se punha ao condutor, a pista era curta e era preciso um esforço de memória para esquecer que tinham acabado de passar por aquela árvore, aquele sinal de saída, não há muito.
O pescador resolveu fazer mais uma surpresa aos meninos.
Bem, não foi exactamente assim, pôs-se a olhar para o Mini às voltas na pista e teve pena do carrinho. Sempre às voltas no mesmo sítio. Sem destino.
Foi à loja, comprou mais umas saídas de auto-estrada e um acidente.
O acidente era giro, dois carros embatidos, um deles de patinhas para o ar como as baratas em Junho. Polícias, carros da Polícia, luzes vermelhas e azuis a piscar numa espécie de Natal à beira-estrada em que os carros paravam para ver e formar bicha.
Acrescentou-lhe ainda uma portagem e um grande viaduto.

Monday, September 25, 2006

 

Little Wing

Porque já passa de meio de Setembro.
Porque já lá vão trinta e seis anos.
Porque as borboletas e as zebras continuam a dançar o mesmo bolero.

 

A6, Coisas Estranhas Acontecem Apesar de Tudo

No quarto do Hotel a mãe olhou de relance para a televisão que estava meio apagada e viu, ou quase que viu, ou sonhou que viu, era do sono talvez, no écran duas crianças que olhavam para si com um sorriso de Natal.
Não acreditou e foi escovar os dentes de cansaço.

Tuesday, September 19, 2006

 

A 6, Área de Serviço

Dentro do Mini a vida em família decorria normal.
Um casal, dois filhos.
O homem amarrado ao volante seguia a estrada atento, a mulher dormia, os meninos discutiam.
Foi um destes que alertou para o insólito da situação.
Que queria fazer xixi.
O condutor não ligou. De seguida foi o outro que também queria fazer xixi e a mulher que acordou com fome.
Como também lhe apetecesse fazer xixi o condutor começou a prestar atenção aos anúncios de áreas de serviço.

Lá fora os meninos foram a correr ter com o pai.
Que os ocupantes do Mini estavam a começar a ficar desconfortáveis, era preciso fazer alguma coisa.
O pescador pensou e resolveu dotar o circuito em que tinha colocado o Mini de uma área de serviço. As lojas ainda estavam abertas e por isso não lhe foi difícil encontrar uma.
Trouxe logo uma com hotel e parque de diversões para os meninos do Mini, meninos como os seus, sempre com vontade de fazer xixi nas viagens.
Montaram-na os três sob o olhar embevecido da mãe.

Os do Mini pararam na área de serviço, fizeram xixi e comeram sandes de bife panado.
Retomaram a marcha e voltaram a passar pela área de serviço.
O condutor tinha muito sono, já tinha adormecido uma vez e só tinha sido acordado pelo grito desafinado da banda sonora do lado direito da auto-estrada.
O condutor queria tomar um café e continuar mas a mulher disse-lhe que não havia necessidade, tinham um hotel mesmo ali, os meninos iam todos apertadinhos lá atrás e já estavam no cala-te senão levas uma palmada há tempo demais.

Lá fora os meninos preparam-se para dormir que no dia seguinte tinham escola. Deitaram-se, o pai apagou a luz e entalou-lhes os cobertores, esperaram que o pai saísse do quarto, levantaram-se e foram ver a pista do Mini, do seu Mini, vê-lo arrumado no parque da área de serviço e dizer-lhe – Boa noite carrinho, até amanhã.

Friday, September 15, 2006

 

A 6, Chegada a Casa

O sorriso alegre nos olhos dos filhos fixos no mini como faróis de nevoeiro, aqueles olhos grandes e negros redondos de alegria, o sorriso lateral da mulher orgulhosa do seu marido pescador de carros, fizeram-no esquecer o cansaço, o calor das tardes de sol na auto-estrada.

A família reuniu-se à sua volta a admirar o carro.

Um mini.
Amarelo como secretamente sonhara.
Acabado de pescar, ainda com o motor a funcionar em pleno e os ocupantes na ilusão de prosseguir a viagem, acostumados que estavam à monotonia da paisagem.

Thursday, September 14, 2006

 

A6 No Caminho do Oriente

Há no caminho do Oriente uma Auto-estrada, a A6, que leva das praias do pôr-do-sol a Évora e até mais além.

De vez em quando o rio do asfalto é cortado (numa imagem de satélite) por uma ponte que faz parte de outra estrada que vem de um lado qualquer e volta para lá depois de ter passado por montes e vales e planícies e outras coisas que não me lembro.

Nessas pontes em tardes de sol os homens debruçam-se sobre a Auto-estrada e alçam as suas canas de pesca.
Ondas de calor tocam-lhes os pés e trazem com elas conchas, pedaços de estrelas-do-mar caídas em desgraça e restos de pastilhas elásticas descolados do asfalto.

Pescam.
Sabem como são os pescadores, cada um tem uma história mais miraculosa ainda que a do outro para contar quando se reúnem. O que pescou um camião TIR vergado ao peso da consciência, o que pescou um autocarro de passageiros vindo de um país tão longínquo que não foi possível identificar pela matrícula.

Uns tentam pescar os carros pelas cores, há quem prefira os pretos, há quem prefira os azuis, outros as marcas, os modelos.

Aquele queria um carro encarnado como uma rosa para oferecer à mulher amada.
Outro um autocarro para se sentir importante.

Este queria um mini.
Tinha filhos pequenos e queria dar-lhes um mini de presente.
Um carrinho pequeno que os fizesse rir e correr para ele e abraçá-lo quando chegasse a casa depois de um domingo de pesca, que lhe fizesse sentir a alegria dos gestos pequenos, o orgulho de os fazer felizes.

Wednesday, September 13, 2006

 

A Torre da Glória, XIX, A Morte

Quando inevitavelmente chegou a membro da direcção da cidade verificou que as reuniões do conselho de administração eram muito pouco concorridas. E cada vez o eram menos.
Também os membros da vereação saltavam da Torre.

Ao passar nas ruas da cidade ao volante do seu automóvel (o motorista saltara também ele) de cada vez via os semáforos menos concorridos.
O sinal vermelho já não atraía filas de carros parados uns atrás dos outros. Às vezes as próprias luzes verdes tinham que aguardar pacientemente que algum carro quisesse passar.
O problema não era a falta de carros, era a falta de pessoas, quase todas saltavam e deixavam os semáforos às moscas.
Já não havia quem limpasse os corpos por debaixo da torre. Já não havia transportes públicos. Os serviços da cidade falhavam e já não havia quem reparasse os aparelhos, quem trabalhasse nas fábricas, no comércio, nos escritórios.
As plantas morriam nos jardins por falta de água.
Os comboios deixaram de parar na estação.
A cidade morria.
Só os cães prosperavam.

Agora que era membro do conselho (e rapidamente chegou a presidente por causa do falecimento do titular) as funções deste esvaziavam-se.

Numa manhã em que ao vir de casa não se cruzou com ninguém resolveu verificar se era o último cidadão que ainda não tinha saltado.
Cruzou as ruas até o carro parar por falta de gasolina e não viu ninguém (nomeadamente nos postos de abastecimento de combustível).
Os supermercados estavam abertos, vazios, repletos de produtos a passar a validade, mas ninguém os pilhava.
Não havia quem pilhasse.
Também não havia polícias.
Nem luzes.
Só o esqueleto da cidade sobrevivia, as avenidas ortogonais, o reflexo dos vidros das janelas, os carros arrumados junto dos passeios.
O cimento, o metal, sobreviviam à carne que entretanto apodrecera.

Acabou por se convencer que a cidade estava mesmo vazia de gente.
«É a minha vez de saltar», pensou.
Assaltou um carro e dirigiu-se à Torre da Solidão.
Matilhas de cães rosnavam-lhe ao começar a subir as escadas, mas com a quantidade de carne morta que rodeava a base da torre viraram a atenção para outro lado.
O cheiro nauseabundo empurrou-o pelas escadas acima.
Engordara, teve de parar várias vezes pelo caminho para respirar.
Finalmente chegou à plataforma.
Imaginara que ia estar sozinho, no entanto estavam lá já duas pessoas.
Um casal.
Ela era a mulher da janela, a que o fizera sofrer a esperança da morte pela primeira vez.
Ele era o marido, um tipo com ar de quem só serve para passar papéis do lado esquerdo da secretária para o direito. Por um momento estudaram-se, olharam-se nos olhos. Finalmente a mulher reconheceu-o. Olhou para o marido, olhou para si, suspirou de desalento e saltou.

Ficaram os dois sós, ele e o viúvo que tinha ar de só servir para passar papéis do lado esquerdo da secretária para o direito. Trocaram um breve olhar e desviaram os olhos um do outro.

Lentamente dirigiram-se para a escada e começaram a descer.

 

As árvores da minha rua são lódãos

Vivi uma data de anos com elas sem lhes conhecer esse pequeno segredo. Eram as árvores. As que tiravam a vista do que se passava na Rua Ferreira Borges no Verão e a juncavam de folhas no Outono.
A certa altura do ano equipas de trabalhadores municipais mutilavam-nas horrivelmente por causa das pessoas que têm medo das árvores, para que não tenham medo daquelas criaturas grandes.
O Outono era o início da escola, os calções ficavam curtos de frio nas pernas (na altura só se usava calças de homem a partir da adolescência) e as folhas caídas juntavam-se em grandes bandos para dançar valsas de ventos cruzados nas esquinas. Rodopiavam, giravam, subiam. As pastas da escola a pesar na mão cruzávamos a floresta do baile rasteiro na ida e vinda infantil que as coisas que não voltam só as descobrimos mais tarde.
Eram as árvores, sabia lá que eram lódãos.
Foi em Fafe que descobri.
Não há lódãos em Fafe.
Havia choupos canadianos, magnólias, ameixieiras bravas, hibiscos, plátanos, lódãos é que não.
Mas há uma arte marcial, o jogo do pau.
E o pau é de lódão.
É a madeira que tem a resistência, a elasticidade, o peso certo para bater, receber pancadas, vergar, dançar com ela.
O lódão é, portanto, uma das coisas que voltam.
Só não parece.

Saturday, September 02, 2006

 

A Torre da Glória XVIII, A Carreira

Tinha medo do que sentia em si.
Tinha vergonha.

Não teve muito tempo para reflectir sobre o travo amargo que o gosto da vergonha lhe deixava na boca porque a mulher da vassoura o chamou.
Explicou-lhe o que tinha que fazer a partir daquele momento. As suas novas funções.

Nada de complicado. Agora era funcionário público. Competia –lhe em geral obedecer ao que lhe ordenava a da vassoura e em especial recrutar rapazes para os gangs e levá-los a praticar saltos ilegais.

Não achou estranho, a vida é assim.
Começou logo que pode. Com a sua bolsa, as pedras e demais artefactos partiu à conquista do quotidiano.

Reuniu jovens.
Fazia-os saltar dos prédios selvagens que cada vez mais se ofereciam livres nas avenidas. Fazia-os esborrachar-se no chão como couves rejeitadas nos caixotes do lixo dos supermercados. Atraía-os com o perfume da novidade. A outros seduzia-os com a antevisão de uma morte gloriosa, antes que o tempo tivesse tempo de lhes poluir a juventude e envelhecê-la em cascos de cinismo.

Cumpria a quota. Superava-a. Ganhou posição, prestígio, poder.
Já não organizava só mortes clandestinas.
O Festival da Juventude, a celebrar anualmente na Primavera das vidas ceifadas antes do Verão, era sua responsabilidade.
Os putos das escolas passaram a ser também seu alvo.
Um deles, uma cara vagamente familiar, antes de se atirar da Torre abaixo olhou para si como se lhe fosse oferecer um autocolante de um bolicao.

Mais poder. Começou a ser consultado aquando das grandes ocasiões, aquelas de que se espera uma taxa de mortalidade elevada. A mulher da vassoura tratava-o cada vez melhor.

Não era só ele que se sentia crescer.
O Salto generalizava-se.
Se dantes apenas uma parte minoritária da população da cidade saltava hoje o abismo começava a atrair mesmo os de quem não se costumava esperar tanta humanidade.
Membros da Direcção do Município, dos Sindicatos, das demais corporações.

A morte por salto da mulher da vassoura surpreendeu-o.
Já o salto de mãos dadas da mãe e da irmã não.

Ganhava mestria no ofício de matar por procuração, de instilar em peitos bravos a necessidade de os abrandar.
Chegava ao fim do dia com a satisfação de ter feito alguma coisa.

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