Wednesday, June 06, 2007

 

Évora e Eborim

Tenho de há muito uma profunda admiração pelo Alentejo e pelos alentejanos. Acho esta terra linda, as planícies, as flores, os chaparros, o gado, as ribeiras secas (este ano levam água), os castelos que fecham aquela que é a principal porta de invasão de Portugal (todas as batalhas da guerra da restauração ocorridas na Europa foram no Alentejo com excepção da batalha de Almeida!), as cidades naquela que é com o Algarve e a região de Lisboa, a região mais urbanizada de Portugal, historicamente, a simbologia inscrita nas pedras (o cromlech dos Almendros tem aí uns seis mil anos!).
As ceifeiras, os pastores, a profunda espiritualidade das pessoas, o trigo, o vinho, os cantares em escalas melódicas gregorianas de homens que encostavam as vozes umas às outras para não adormecerem no caminho de antes de Sol a depois de Sol na altura em que o Sol é grande e o sono ainda maior porque a noite é um pequeno intervalo entre os suores das ceifas, das mondas, das alfaias que queimam as mãos e os ombros que doem do esforço e o destino servido em cantarinhas de barro e o gado escondido na sombra da azinheira que os homens e as mulheres não podem porque têm de prestar culto ao Sol.
De Sol a Sol.
Tu viajante que passas esta terra queimada no caminho rápido para as praias fica ciente que por debaixo do alcatrão que te conduz há gerações e gerações de espíritos que te olham e velam por ti.
No símbolo heráldico da cidade de Évora, a colina sagrada do Alto Alentejo, para onde todos os marcos apontam, há a referência ao mito criador da cidade, o ser andrógino que se divide em homem em mulher, irmãos que antes de se matarem um ao outro dão origem à cidade através da sua união fecunda.
Traçam as muralhas e lançam-se incestuosamente abraçados do seu alto para dar lugar a gerações de seres humanos.

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