Wednesday, August 16, 2006
A Torre da Glória XVII, Conversa em Família
Afinal a pomba não lhe disse nada. Pousou no seu ombro, esperou um momento e foi-se embora.
Um daqueles momentos na vida que não têm significado nenhum, um daqueles que passados vinte anos não guardamos na memória, e que passados vinte minutos se começam a tornar confusos, nebulosos.
Aliás os momentos significativos da vida de cada um só o são na medida em que se possa dizer que a vida tem um significado.
Sei lá, dizer que a batalha de Gaugamelas foi um momento significativo na vida da Civilização Ocidental só é possível ao fazer-se a história da Civilização Ocidental.
Das pessoas é mais raro fazer-se a história. E de qualquer modo só essa pessoa poderia dizer que aquele momento tal foi significativo para si, e mesmo assim é preciso que essa pessoa estivesse atenta aos momentos de modo a ver se eram significativos ou não.
O pousar da pomba não lhe pareceu significativo, a conversa com a mulher que tanto varria as folhas caídas dos plátanos como a vida das pessoas sim.
Não tinha mais para onde ir, o gang do ceguinho estava morto e os cadáveres já descolados do asfalto da rua e recolhidos em lugar próprio, os amigos andavam desaparecidos, talvez mortos, foi para casa.
Chegou e era a cena do costume, a mãe num canto da cozinha a chorar, o pai perseguia a irmã à volta da mesa, alternava nomes ternos com insultos, dizia que não lhe queria fazer mal nenhum e fazia-lhe descrições soezes do que lhe ia fazer quando a apanhasse. Cheirava a bagaço que tresandava.
Sem pensar sequer chegou ao pé do pai e deu-lhe dois murros que o acalmaram. De seguida um par de estalos para que ele entendesse bem.
Fugiu para o quarto e deitou-se.
Nunca lhe tinha acontecido uma coisa daquelas. A guerra não era sua. Não tinha nada que se meter em assuntos que não lhe diziam respeito.
Não se reconhecia. O que o tinha feito intervir?
Sentiu medo dos seus próprios sentimentos.
Levantou-se, saiu de casa. Ao passar viu o seu medo espelhado nos olhos da mãe e da irmã. O pai continuava demasiado aturdido para se dar conta da gravidade da situação.
Um daqueles momentos na vida que não têm significado nenhum, um daqueles que passados vinte anos não guardamos na memória, e que passados vinte minutos se começam a tornar confusos, nebulosos.
Aliás os momentos significativos da vida de cada um só o são na medida em que se possa dizer que a vida tem um significado.
Sei lá, dizer que a batalha de Gaugamelas foi um momento significativo na vida da Civilização Ocidental só é possível ao fazer-se a história da Civilização Ocidental.
Das pessoas é mais raro fazer-se a história. E de qualquer modo só essa pessoa poderia dizer que aquele momento tal foi significativo para si, e mesmo assim é preciso que essa pessoa estivesse atenta aos momentos de modo a ver se eram significativos ou não.
O pousar da pomba não lhe pareceu significativo, a conversa com a mulher que tanto varria as folhas caídas dos plátanos como a vida das pessoas sim.
Não tinha mais para onde ir, o gang do ceguinho estava morto e os cadáveres já descolados do asfalto da rua e recolhidos em lugar próprio, os amigos andavam desaparecidos, talvez mortos, foi para casa.
Chegou e era a cena do costume, a mãe num canto da cozinha a chorar, o pai perseguia a irmã à volta da mesa, alternava nomes ternos com insultos, dizia que não lhe queria fazer mal nenhum e fazia-lhe descrições soezes do que lhe ia fazer quando a apanhasse. Cheirava a bagaço que tresandava.
Sem pensar sequer chegou ao pé do pai e deu-lhe dois murros que o acalmaram. De seguida um par de estalos para que ele entendesse bem.
Fugiu para o quarto e deitou-se.
Nunca lhe tinha acontecido uma coisa daquelas. A guerra não era sua. Não tinha nada que se meter em assuntos que não lhe diziam respeito.
Não se reconhecia. O que o tinha feito intervir?
Sentiu medo dos seus próprios sentimentos.
Levantou-se, saiu de casa. Ao passar viu o seu medo espelhado nos olhos da mãe e da irmã. O pai continuava demasiado aturdido para se dar conta da gravidade da situação.