Friday, February 29, 2008

 
Preocupado com a qualidade dos diálogos quando fala sozinho?

Wednesday, February 27, 2008

 

Manhãs de Metro, as notas soltas

As cores, as cores eram verdes.
«Pois eram pretas»
Por entre as camisas aos quadrados, os casacos de fato de treino, os azuis, os encarnados, as calças pouco vincadas, as abertas, as curtas, as riscadas, por entre a floresta das cores há uma nota preta que se impõe como um meio tom no teclado das caras: o leitor de mp3.
Discreto, só se lhe vê as pontas auriculares nas orelhas, a entalar o cérebro entre ondas de som invisíveis para quem está de fora.
O olhar solta-se e voga para além da carruagem, para praias longe, para outros rostos.

Uma mãe leva o filho pela mão, pequeno, o cabelo muito lambido, a pastinha na mão cheia de brinquedos, que as folhas de papel só chegam um ano mais tarde e só entram às oito e meia.

Um homem de camisa de Verão aos quadrados abraça-se a si próprio porque o vento frio da corrente de ar da estação lhe lembra a solidão.

 

Metro, o Sono

Cedo de manhã o Metro é cosmopolita. E ensonado também.
Tenho muitas vezes a sensação de ser das poucas pessoas na carruagem de que os pais são naturais de Portugal.
É uma espécie de bazar de roupas de trabalho. Os brasileiros de boné. As russas de cabelo pintado encostam a cabeça à mão e fecham os olhos à procura de planícies de Inverno lá atrás. Todas as camisas são coloridas.
Um rapaz alto deixa embalar os dedos das mãos num compasso saído dos auscultadores do leitor de mp3 que transborda um css tss electrizante.

 

Manhãs no Metro

Ainda na cama soergue-se. Abre os braços e flutua-os num esticar ondulante.
À sua esquerda um ressonar confortável acorda-a para a realidade.
Leva as mãos ao peito e verifica que está tudo no lugar.
É um dos seus pesadelos favoritos: acordar com as mamas descaídas.

Lava os dentes com movimentos lentos, circulares.
Põe os auscultadores e sai para o Metro sapateando pela calçada um bolero contido.

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